24.6.09

Capitu, adultério, Lygia Fagundes e Romy Schneider

image Lygia Fagundes Telles me manda o seu livro e de Paulo Emílio sobre Capitu, que serviu de base para o filme de Saraceni. No prefácio, nota que Bentinho, ao saber da morte do filho, vai jantar fora e ao teatro. Acha que o filho não é dele, e, sim, de Escobar com Capitu, mas o menino era carinhoso com Bentinho, escreve Lygia, chamava-o de pai, logo por que celebraria sua morte? Mais uma vez me parece que mulher não entende certas reações masculinas. Falei outro dia de Aquiles goazndo fraternamente um troiano antes de matá-lo, o que deixou Simone Weil chocada. Agora, o prazer furibundo de Bentinho em ver o filho da p... morto escapa à bela Lygia. E por que essa mania de inocentar Capitu? Dos acadêmicos posso até entender, seu conformismo servil à moda, de que a mulher é sempre vítima do homem, mas de Lygia e Paulo? Tanto ele como ela frequentavam um círculo em que adultério é sabido e consentido, o mais perdoado dos pecados, de resto, em geral, cometido por marido e mulher. Mas, quando encrenca, é fogo pro Palestra. Já notei que várias pessoas com quem converso não entendem o ódio de Merteuil por seu cúmplice e ex-amante Valmont, em Ligações perigosas, quando ele se apaixona por outra mulher. Um filme que vi, o melhor de Romy Schneider, o último que fez, antes de se suicidar, talvez ajude. Ela é casada com Michel Serrault, a quem acusa de haver molestado uma menina. A polícia acredita e Serrault é impiedosamente interrogado por Lino Ventura, o policial. Até que Ventura desconfia e descobre que Romy Schneider odeia o marido porque um dia ele olhou, inocentemente, para uma menina (outra), numa festa de Natal, com ternura que nunca teve com ela, sua mulher. É uma grande cena. O filme se chama Garde à vue, que me dizem é "prisão preventiva".

Paulo Francis

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