26.6.09

O que dizem os amigos e os inimigos

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As coisas mais desagradáveis que os nossos piores amigos nos dizem pela frente não se comparam com as que nossos amigos dizem de nós pelas costas.

Alfred de Musset

25.6.09

Amizade entre as classes

Há pouca amizade no mundo, sobretudo entre pessoas da mesma classe.

Francis Bacon

24.6.09

Capitu, adultério, Lygia Fagundes e Romy Schneider

image Lygia Fagundes Telles me manda o seu livro e de Paulo Emílio sobre Capitu, que serviu de base para o filme de Saraceni. No prefácio, nota que Bentinho, ao saber da morte do filho, vai jantar fora e ao teatro. Acha que o filho não é dele, e, sim, de Escobar com Capitu, mas o menino era carinhoso com Bentinho, escreve Lygia, chamava-o de pai, logo por que celebraria sua morte? Mais uma vez me parece que mulher não entende certas reações masculinas. Falei outro dia de Aquiles goazndo fraternamente um troiano antes de matá-lo, o que deixou Simone Weil chocada. Agora, o prazer furibundo de Bentinho em ver o filho da p... morto escapa à bela Lygia. E por que essa mania de inocentar Capitu? Dos acadêmicos posso até entender, seu conformismo servil à moda, de que a mulher é sempre vítima do homem, mas de Lygia e Paulo? Tanto ele como ela frequentavam um círculo em que adultério é sabido e consentido, o mais perdoado dos pecados, de resto, em geral, cometido por marido e mulher. Mas, quando encrenca, é fogo pro Palestra. Já notei que várias pessoas com quem converso não entendem o ódio de Merteuil por seu cúmplice e ex-amante Valmont, em Ligações perigosas, quando ele se apaixona por outra mulher. Um filme que vi, o melhor de Romy Schneider, o último que fez, antes de se suicidar, talvez ajude. Ela é casada com Michel Serrault, a quem acusa de haver molestado uma menina. A polícia acredita e Serrault é impiedosamente interrogado por Lino Ventura, o policial. Até que Ventura desconfia e descobre que Romy Schneider odeia o marido porque um dia ele olhou, inocentemente, para uma menina (outra), numa festa de Natal, com ternura que nunca teve com ela, sua mulher. É uma grande cena. O filme se chama Garde à vue, que me dizem é "prisão preventiva".

Paulo Francis

23.6.09

O Brasil é um país das Arábias

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Este é um país das Arábias. Uma grande caverna de Ali Babá virada do avesso.

Fernando Pedreira

22.6.09

Abecedário

O A é uma letra com sótão. Chove sempre um pouco sobre o à craseado. O B é um I que se apaixonou por um 3. O b minúsculo é uma letra grávida. Ao C só lhe resta uma saída. O Ç cedilha, esse jamais tira a gravata. O D é um berimbau bíblico. O e minúsculo é uma letra esteatopigia (esteatopigia, ensino aos mais atrasadinhos, é uma pessoa que tem certa parte do corpo, que fica atrás e embaixo, muito feia). O E ri-se eternamente das outras letras. O F, com seu chapéu desabado sobre os olhos, é um gangster à espera de oportunidade. O f minúsculo é um poste antigo. A pontinha do G é que lhe dá esse ar desdenhoso. O g minúsculo é uma serpente de faquir. O H é uma letra duplex. A parte de cime é muda. Serve também como escada para as outras letras galgarem sentido. O h minúsculo é um dinossauro. O I maiúsculo é um bilboquê. O J, com seu gancho de pirata, rouba às vezes o lugar do g. O j minúsculo é uma foca brincando com sua bolinha. Vê-se nitidamente; o K é uma letra inacabada. Por enquanto só tem os andaimes. Parece que vão fazer um R. Junto com o k minúsculo, o K maiúsculo treina passo-de-ganso. O L maiúsculo parece um l que extraíram com a raiz e tudo. Mas o I minúsculo não consegue disfarçar que é um número (1) espionando o alfabeto. O M maiúsculo é o gráfico de uma firma instável. O m minúsculo é uma cadeia de montanhas. O N é um M perneta. No n minúsculo pode-se jogar críquete com a bolinha do o. O O maiúsculo boceja largamente diante da chatura das outras letras. O o minúsculo é um buraquinho no alfabeto. O p é um d plantando bananeira. Ou o q, vindo de volta. O Q maiúsculo anda sempre com o laço do sapato solto. O q minúsculo é um p se olhando de costas ao espelho. O R ficou assim de tanto praticar halterofilismo. Sente-se que o s é um cifrão fracassado. O S maiúsculo é um cisne orgulhoso. Na balança do T se faz jusTiça. O U é uma ferradura do alfabeto, protegendo o galope das ideias. O u minúsculo é um n com as patinhas pro ar. O V é uma ponta de lança. O W são vês siameses. O X é uma encruzilhada. O Y é a taça onde bebem as outras letras. Desapareceu do alfabeto porque se entregou covardemente, de braços pra cima. O Z é o caminho mais curto, depois da bebida. O z minúsculo é um s cubista.

Millôr Fernandes

21.6.09

Americanos

Ninguém até hoje perdeu dinheiro por subestimar a inteligência do povo americano.

H. L. Mencken