31.7.10

467. A palavra escrita e os mal-entendidos

Sócrates: Você sabe, Fedro, esta é a singularidade do escrever, que o torna verdadeiramente análogo ao pintar. As obras de um pintor mostram-se a nós como se estivessem vivas; mas, se as questionamos, elas mantêm o mais altivo silêncio. O mesmo se dá com as palavras escritas: parecem falar conosco como se fossem inteligentes, mas, se lhes perguntamos qualquer coisa com respeito ao que dizem, por desejarmos ser instruídos, elas continuam para sempre a nos dizer exatamente a mesma coisa. E, uma vez que algo foi escrito, a composição, seja qual for, espalha-se por toda parte, caindo em mãos não só dos que a compreendem mas também dos que não têm relação alguma com ela; não sabe como dirigir-se às pessoas certas e não se dirigir às erradas. E, quando é maltratada ou injustamente ultrajada, precisa sempre que seu pai lhe venha em socorro, sendo incapaz de defender-se ou cuidar de si mesma.

Platão

30.7.10

466. A filosofia como batalha

A filosofia é uma batalha contra o enfeitiçamento da nossa inteligência por meio da linguagem.

Ludwig Wittgenstein

29.7.10

465. Das palavras

As palavras pertencem metade a quem fala, metade a quem ouve.

Montaigne

28.7.10

464. O excesso de leitura

Existem dois modos distintos de ler os autores: um deles é muito bom e útil, o outro, inútil e até mesmo perigoso. É muito útil ler quando se medita sobre o que é lido; quando se procura, pelo esforço da mente, resolver as questões que os títulos dos capítulos propõem, mesmo antes de se começar a lê-los; quando se ordenam e comparam as ideias umas com as outras; em suma, quando se usa a razão. Ao contrário, é inútil ler quando não entendemos o que lemos, e perigoso ler e formar concei­tos daquilo que lemos quando não examinamos suficientemente o que foi lido para julgar com cuidado, sobretudo se temos memória bastante para reter os conceitos firmados e imprudência bastante para concordai com eles. O primeiro modo de ler ilumina e fortifica a mente, aumen tando o seu entendimento. O segundo diminui o entendimento e gra­dualmente o torna fraco, obscuro e confuso. Ocorre que a maior parle daqueles que se vangloriam de conhecer as opiniões dos outros estucl;i apenas do segundo modo. Quanto mais lêem, portanto, mais fracas e mais confusas se tornam suas mentes.

Malebranche

27.7.10

463. Como ler

Leia não para contradizer nem para acreditar, mas para ponderar e considerar. Alguns livros são para serem degustados, outros para serem mastigados e digeridos. A leitura torna o homem completo, as preleções dão a ele a prontidão, e a escrita torna-o exato.

Francis Bacon

26.7.10

462. A mania de citar

Não importa qual fosse o livro que eu estivesse lendo, adquiri o hábito de anotar por escrito sentenças isoladas ou passagens curtas que me parecessem dignas de atenção. Fazia isso tendo em vista o meu próprio uso ou para simples desfrute, como dizem os advogados, sem intenção alguma de publicar. Até que mais recentemente me ocorreu pelo menos uma parte dessas citações — já na casa dos milhares - poderia despertar o interesse de outras pessoas. Daí este livro.

Viscount Samuel

25.7.10

461. Da inutilidade dos prefácios

Um livro que ninguém espera, que não responde a nenhuma pergunta formulada, que o autor não teria escrito se tivesse seguido a sua lição ao pé da letra, eis enfim a excentricidade que hoje proponho ao leitor.

George Bataille