28.7.10

464. O excesso de leitura

Existem dois modos distintos de ler os autores: um deles é muito bom e útil, o outro, inútil e até mesmo perigoso. É muito útil ler quando se medita sobre o que é lido; quando se procura, pelo esforço da mente, resolver as questões que os títulos dos capítulos propõem, mesmo antes de se começar a lê-los; quando se ordenam e comparam as ideias umas com as outras; em suma, quando se usa a razão. Ao contrário, é inútil ler quando não entendemos o que lemos, e perigoso ler e formar concei­tos daquilo que lemos quando não examinamos suficientemente o que foi lido para julgar com cuidado, sobretudo se temos memória bastante para reter os conceitos firmados e imprudência bastante para concordai com eles. O primeiro modo de ler ilumina e fortifica a mente, aumen tando o seu entendimento. O segundo diminui o entendimento e gra­dualmente o torna fraco, obscuro e confuso. Ocorre que a maior parle daqueles que se vangloriam de conhecer as opiniões dos outros estucl;i apenas do segundo modo. Quanto mais lêem, portanto, mais fracas e mais confusas se tornam suas mentes.

Malebranche

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