24.7.09

Os anos 50

Hannah Arendt, um dos meus ídolos, se refere aos anos 50 como "detestáveis". E há, claro, Joe McCarthy, o anticomunismo tedioso do establishment dos EUA, dando também um certo tom à epoca. Digo "um certo" porque os anos 50 produziram Esperando Godot, de Beckett, Recordar com rancor", de John Osborne, O senhor das moscas, de William Golding (uma distopia juvenil, em que críticos descobriram uma moral metafísica, que vendeu até 1970 cerca de 12 milhões de exemplares em capa dura, gerando milhares de teses de Ph. D.), a poesia inicial de Philip Larkin, o último grande poeta inglês. Eliot e Wallace Stevens estavam vivos. Mas vamos ao pop. Em 1950, Bette Davis fez A malvada, All about Eve, Judy Holliday estourou em Nascida ontem, Born yesterday, e Judy Garland fez Nasce uma estrela, A star is born. O musical Guys and dolls, de Frank Loesser, dirigido por Abe Burroughs (que foi interrogado pelos deputados da comissão de atividades antiamericanas), e Kiss me Kate, de Cole Porter, são dos anos 50. São os dois maiores musicais já feitos nos EUA. Ralph Ellison escreveu O homem invisível, o único romance de primeira classe escrito por um negro, Norman Mailer requestou a imortalidade com Barbary Shore. Alguém lembra alguma obra literária de peso igual nos nossos dias? Edmund Wilson era o crítico literário principal da New Yorker. Com US$ 1500 por mês você comprava uma casa razoável a prestação (a juros de 2% ao ano) e um carro. Éramos felizes e não sabíamos. Ah, a vida antes de Elvis e da AIDS.

Paulo Francis

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