29.7.09

Sobre o materialismo e a História

A interpretação materialista da História pode ser verdadeira ou falsa, mas independentemente disto, ela exerce uma influência sobre a História. Homens que estão convictos de que o motor da História - e da cultura, e do pensamento etc. - é a luta de classes, agem diferentemente de homens que pensam que a História reflete a vontade Deus, ou os movimentos de espírito, ou que simplesmente entendem a História como uma agitação sem sentido, e que buscam o sentido justamente naquilo que sai fora da História e do tempo. Homens desta última categoria, quando agem na sociedade, procuram assegurar ao maior número possível de homens o acesso à contemplação, àquilo que está fora e acima da História; e é este o sentido que justifica eticamente todos os seus esforços, inclusive no sentido de melhorar as condições materiais de vida das populações, para libertá-las da pressão econômica e dar-lhes a oportunidade de vacare Deo. Já os crentes do materialismo histórico não se interessam senão por inserir um número cada vez maior de homens na consciência do processo histórico, na participação voluntária no devir. Ora, o devir não pode, por si mesmo, ser o sentido; a participação no devir só tem sentido em função de algum objetivo a ser alcançado; mas, não havendo mais a promessa do supratemporal, do acesso à transcendência, a inserção ativa na praxis se esgota como fim em si mesma, e cai para objetivos meramente pretextuais, dedicados a manter a roda girando. Este é o verdadeiro efeito e o verdadeiro significado do marxismo, para além de suas intenções declaradas, sejam elas mentiras propositais ou auto-enganos de mentalidades doentes. É preciso ser um completo idiota para tomar como promessa redentora a ameaça que essa gente nos faz de nos aprisionar para sempre no círculo do samsara. Alguns criticam a utopia marxista por ser irrealizável.  Se fosse realizável, seria o inferno propriamento dito, no sentido etimológico de queda num nível ontológico inferior.

Olavo de Carvalho

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